quarta-feira, 8 de julho de 2009

Orange Sky

Preguiçosamente, ele se levanta da poltrona acolchoada e toma em mãos uma caneca de café. Apaga a luz da luminária e fecha o livro, que deixa escapar um pequeno pedaço de papel que tinha escrito:

“Ame-a, ame-a mais do que tudo. Porém, esconda o seu amor por ela. Dê todo o carinho e atenção do mundo mas guarde o conhecimento desse seu amor para você mesmo.”
07/06/2007


Inicialmente, o velho bilhete o instigou e o fez refletir. Mas após ver a data, o deixou de lado. Afinal, ele havia escrito aquilo a mais de dois anos.
Bebe um gole de café e vai para a janela.
Ele sabia que era impossível fugir disso, afinal, agora Ela está dentro dele. Ao observar o céu rubro-dourado daquele fim de tarde, um lindo rosto lhe vem à mente. Uma beleza singular, além de qualquer parâmetro existente

Ela é linda. Linda e eu não consigo parar de pensar nisso; Ele murmura enquanto leva a caneca até os lábios.
Com os olhos apontados para o céu, ele procura, internamente, por ele mesmo. E como se houvesse alguém para lhe responder, ele indaga:

Amor? Não... Ou talvez sim? Não seria rápido demais para isso? Mas dizem que o amor não tem relógio, e talvez esse seja o problema... Amor? Do quê eu estou falando?...

Tenta cessar o seu diálogo mas, ao fugir de seus pensamentos, é como um peixe tentar fugir da água.

Eu penso nela a mais de três semanas... Amor? Claro que não... Mas o que é amor?
Será o que Antônio Conselheiro sentia pelos nordestinos? Será o amor de Gandhi à liberdade? O amor – ou será perseguição?- de Adolf Hitler à um ideal torpe?... Não... Talvez seja o que Julieta deu a Romeu. Ou o que Deus deu aos católicos. Talvez o amor seja do que os poetas fazem os seus poemas...


Tenta mais uma vez interromper seus pensamentos e procura admirar os últimos minutos em que o Sol pinta o céu. Impossível.

Será que as pessoas se comportam como a multiplicação de matrizes? O amor de A x B é evidente, mas será que o amor de B x A é possível?
As pessoas apaixonadas se comportam como duas retas concorrentes. Onde as duas tem origens distintas, se tocam em um único ponto e depois prosseguem em direções diferentes?
Oh... acho que eu devo ter estudado demais nessa tarde...


Tenta beber mais um pouco de café. Agora o café está frio e se torna amargo dentro da sua boca. Mesmo assim ele o engole.

Somos humanos, somos matéria, mas não estamos condicionados somente à equações, dados estatísticos e fatos históricos. Estamos condicionados a nós mesmos.
Talvez amá-la seja perigoso, mas necessário.


Ele toma um pouco de fôlego e mais um gole de café frio.

Pelo menos eu tenho um dado estatístico: de todos os nossos beijos e abraços, todos arrancaram a felicidade do mais íntimo de mim e a trouxeram para a minha superfície.
É isso a coisa certa a fazer, é confiar.


Por um breve instante, ele pensa em ir até a cozinha e pegar café quente. Logo muda de opinião e, em voz alta, diz:

Eu não preciso de mais nada e, sem dúvida, esse é o pôr-do-sol mais belo do verão. Quem sabe...O mais belo da minha vida


Dá um largo sorriso e trás aquele rosto lindo de volta para os seus pensamentos.
Ele não poderia ter uma companhia melhor para este pôr-do-sol.


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Descrição da tarde de 08/07/2009