domingo, 6 de setembro de 2009

Florescer

Não sei se já escrevi algo sobre a minha janela, mas, hoje de manhã, reli um lindo texto da Clarice Lispector e assenti que seria um ótimo tema para pensar.
No momento, lá fora chove muito. É o clima ideal para deixar os pensamentos fluírem, não só pela minha cabeça, mas pelo meu corpo inteiro. Minha mãe comenta que é perigoso mexer com o computador enquanto está chovendo, isso é verdade? Não importa.
Pego a caneca de porcelana em mão e sinto o calor como um afago. Como se alguém segurasse minha mão com todo o amor do mundo (onde ela está?). Estranho, eu nunca havia percebido como a fumaça de um chá quente se espalha pela atmosfera, formando espectros surreais. Vou arrastando meus pés até a janela, como se houvessem um milhão de toneladas nos meus ombros.
Será um delírio meu ou as gotas caem no chão dentro de um ritmo?

Pela minha janela passa o tempo, sempre tão sério e doente; sempre maluco. “Por que você é tão volúvel e inconstante? Por que sempre teima em ir contra a minha vontade?” tenho desejo de gritar, mas as palavras nunca saem da minha garganta. Pela minha janela, passa também o amor, sempre de mãos dadas com alguém, que bobão.
Pela minha janela, eu vejo a chuva caindo. Sinto um aroma característico penetrar na minha sala e me usar como labirinto, percorrendo meu corpo e atingindo minha cabeça.
Pela minha janela, eu vejo pessoas, vejo coisas. Ouço risos, choros, gritos... suspiros.
Ela muda constantemente: há dias em que vejo uma película refletora e o mundo inteiro fica fora de foco, com exceção da minha imagem. É estranho ver meu rosto implantado em tudo mas, ao mesmo tempo, é a única maneira de saber que eu existo.
É claro que uma janela é apenas uma janela; não é o mundo. Mas como é bom observar o mundo sem interferir nele.
Eu observo as árvores perderem suas folhas em maio e, em setembro, já estarem verdes e volumosas novamente. Observo também as chuvas, o Sol doloroso e impiedoso, as ventanias de janeiro. Vejo o céu mudar de cor todos os dias. Vejo coisas que não podem ser guardas em lugar nenhum além da minha memória.

E você? O que vê pela sua janela?